
Um dos principais e mais seguros investimentos do país é o investimento em renda fixa (RF) em títulos públicos. Um dos pontos interessantes dos títulos públicos é a liquidez. O governo garante a recompra dos títulos antes do vencimento, mas existe a marcação a mercado e este post explora esse aspecto.
Os títulos públicos costumam apresentar diversos prazos de vencimentos, mas geralmente são longos. Além disso, existem vários tipos de títulos públicos. Existes os títulos que seguem a SELIC, os que seguem o IPCA e ainda os pré-fixados.
O mais conservador é o título SELIC, porque está vinculado apenas ao indexador. Este título segue a SELIC sem que haja flutuações significativas. Pode existir alguma flutuação pequena devido ao ágio/ deságio, mas por ser algo menor não vem ao caso analisar neste post.
Já os títulos públicos atrelados ao IPCA e os pré-fixados podem apresentar flutuações severas. Se aumentar a percepção de risco no país (refletida pelo aumento das taxas de juros do sistema financeiro), isso acarreta uma desvalorização desses investimentos e vice-versa.
Assim, nesse tipo de investimento existem 2 curvas. A curva dos juros pactuados ao se comprar o título e a curva de mercado. Para exemplificar de uma forma simples, imagine que você fez um investimento comprando um título público com vencimento para 10 anos a uma taxa de 10%a.a. onde o governo se compromete a pagar R$1000 pelo título, mas no vencimento. Um cálculo rápido mostra que você pagou R$385,54 pelo título. Ou seja, R$385,54 aplicado na taxa de 10%a.a. resultará os R$1000 daqui a 10 anos!
No dia seguinte, devido a uma notícia bombástica da economia o governo só está conseguindo vender os títulos na taxa de 12%a.a. e você resolve resgatar seu título (vender de volta ao governo visto que ele garante a recompra). No cenário acima ele vai recomprar seu título para colocá-lo no mercado.
Mas se o mercado está conseguindo 12%a.a, como ele vai colocar seu título a 10%a.a.? Só há um jeito. Ele precisa desvalorizar seu título a tal ponto que o retorno do mesmo volte a ser 12%a.a. resultando em R$1000 após 10 anos.
Como o valor do título daqui a 10 anos é R$1000, então, o valor de hoje, na taxa de 12%a.a. é de R$321,97. Assim, ao vender no dia seguinte haverá uma perda de 16%! Nesse exemplo houve uma perda, mas se a taxa caísse ao invés de subir, haveria um ganho.
O exemplo acima foi bem simples, mas ilustra a marcação a mercado e isso reflete diariamente na posição dos seus investimentos. Os prazos dos vencimentos também podem ser bem maiores, como 20 anos ou mais e o interesse nos resgates em qualquer tempo entre a compra e o vencimento. Assim, se torna interessante ter uma equação que consiga prever o retorno do investimento e ainda inclua a marcação a mercado em qualquer tempo entre o investimento e o vencimento do título.
Esta equação existe e foi determinada no livro “Finanças Inteligentes” disponível na Amazon. Lá é demonstrado o passo a passo para se chegar nessa equação. Vamos considerar um investimento em título IPCA+X. Se for um pré é só considerar o IPCA=0% que a equação também funciona.
Considerando uma taxa de inflação IPCA, o tempo de vencimento do título (N), a taxa inicial pactuada X=ip e no tempo n (por exemplo, 2 anos após o início) a taxa deste título no mercado esteja em X=ik. Qual a taxa de retorno total it que o investidor teria ao resgatá-lo? A equação é a descrita abaixo.
Exemplo1: Considere um título principal a IPCA+6,01% com vencimento para 2045. Qual será o retorno desse investidor daqui a 2 anos supondo que a taxa deste título estará em IPCA+5%?
Solução: Vamos considerar uma inflação de 5%a.a. Mas a inflação é só um indexador. Um aumento, aumentará it. O tempo N é aproximadamente 21,6 anos.
No exemplo acima, foi adicionado 0,12% de spread. O governo adiciona um spread na venda antecipada que penaliza o investidor. Em geral este spread fica por volta de 0,12%.
Abaixo são colocados outros 2 exemplos que complementam este post, mas o essencial já foi apresentado acima.
Exemplo 2: Na data de 07/10/2023 a taxa de um título IPCA+ com vencimento em 2045 é de IPCA+6,01%. Como será o comportamento deste título para os próximos 3 anos, considerando vários cenários de taxas desse título nesses 3 anos (IPCA+4,5%, IPCA+5%, IPCA+5,5%, IPCA+6%, IPCA+6,5% e IPCA+7%)?
Solução: Uma forma de avaliar o comportamento do título é considerar vários tempos nesse interim de 3 anos como se o título atingisse a nova taxa em cada um desses tempos e plotar um gráfico. Esta análise está representada pela figura 1. Por exemplo, na taxa IPCA+5,5%a.a. atingida em n=1 ano, o retorno seria em torno de 20%. O salto inicial em 0,2anos ocorre pelo fato de ser esse o primeiro tempo considerado no cálculo.
Figura1: Análise da marcação a mercado no intervalo de 3 anos de um título IPCA+ com vencimento em 21,6anos com taxa atual de IPCA+6,01%.
A leitura no gráfico da figura 1 é direta. Por exemplo, em 07/10/2023 a taxa de juros do título principal de 2043 está em IPCA+6,01%. O cenário atual é de queda dos juros. Um cenário possível é que daqui a um ano a taxa esteja em IPCA+5,5%. Isso resultaria em um retorno próximo de 20%. Se esta taxa atingir 5%, o retorno seria por volta de 32%. Se a taxa de IPCA+5%, for atingida em 2 anos, o retorno ao se resgatar nesse tempo seria de 48%.
Assim, com o uso da equação acima, pode-se construir facilmente este tipo de análise que ajuda o investidor a escolher os investimentos.
Uma análise poderia ser feita de se avaliar o retorno ao se resgatar antecipadamente e aplicar em SELIC aguardando nova oportunidade. A SELIC média dos últimos 20 anos ficou em torno de 9%a.a., dos últimos 15 anos em torno de 10%a.a e dos últimos 20 anos, 11%a.a. Essa análise está no 7° post. Assim, se poderia avaliar o resgate em cada tempo em uma janela de 4 anos e reaplicar em SELIC e então avaliar o retorno ao final do quarto ano. Esse retorno poderia ser confrontado em um investimento em CDB disponível atualmente para o prazo de 4 anos. Hoje é possível aplicar a uma taxa pré de 13,75%a.a. ou IPCA+7,8% o que resulta a uma taxa próxima ao pré. A figura 2 apresenta está análise onde foi considerado uma taxa SELIC de 11%a.a.
Figura 2: Resgate do Título IPCA+6,01% em cada tempo e reaplicado na taxa SELIC de 11%a.a.
A análise do gráfico é um pouco mais complexa. Como exemplo, considere o tempo de 1 ano. Suponha que nesse tempo o título principal de vencimento de 2045 que foi comprado a IPCA+6,01% foi resgatado na taxa IPCA+5%a.a e reaplicado na taxa SELIC de 11%a.a. Assim, ao final do quarto ano o retorno será de 66%. Agora considere que nessas mesmas condições, mas no tempo 2 anos o resgate quando o título atingiu IPCA+5%a.a., o retorno ao final do quarto ano seria de 70%. A linha pontilhada mostra o retorno do pré-fixado a 13,75%a.a. Pode-se observar que este retorno equivale ao final do quarto ano de 67%. Veja que este pré só é superado pelo título IPCA+6,01% de vencimento 2045 se a taxa deste título ficar abaixo de IPCA+5,5%a.a.!
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